A Feira do Livro do Porto, fundada em 1930, é desde 2014 organizada pela Câmara Municipal do Porto e acontece anualmente nos Jardins do Palácio de Cristal.
A edição de 2021 decorre entre 27 de agosto e 12 de setembro, com 78 entidades participantes e um programa artístico que evoca Júlio Dinis, no ano que passam 150 anos da sua morte, a partir do mote Herborizar.
O autor, que morre aos 32 anos em 1871, escreveu os célebres romances “As Pupilas do Senhor Reitor”, “Uma Família Inglesa” e “A Morgadinha dos Canaviais”, entre tantos outros que refletiram as vivências da segunda metade do século XIX em Portugal, e particularmente no Porto.
Fazer herbários era prática comum no período romântico, um ímpeto de conservar o universo vegetal que é tão efémero, quanto eterno.
Uma demanda simbólica nos desafiantes tempos em que vivemos, porque nos relembra a importância e o exemplo da natureza, a sua potência e resistência.
A programação, coordenada por Nuno Faria, está disponível no website da http://www.feiradolivro.pt
Quintas de Leitura no Auditório da Super Bock Arena
QUI 9 SET, 22H (Duração 90m)
AUDITÓRIO DA SUPER BOCK ARENA — PAVILHÃO ROSA MOTA
PALAVRA SOPRADA
QUINTAS DE LEITURA: ANJOS FERIDOS NA RAÍZ
Um Recital com Bolinha Vermelha ao Canto da Noite – M/16
Programador: João Gesta
No ano do seu 50º aniversário, escolhemos um verso de Daniel Faria para dar o mote a esta sessão do ciclo poético Quintas de Leitura, realizada no âmbito da programação da Feira do Livro do Porto 2021.
Alguns poetas, “negros paridores da luz”, atravessam a escuridão e, muitas vezes, criam a “expensas da morte”. Desandam cedo da vida, asfixiados por este país-menino. Malditos, uns. Incómodos, todos. “Gente com dente, gente que enterra o dente, gente que mostra o dente”, como reclamava Ana Hatherly. Ostracizados, inadaptados à realidade, escrevem versos profundos sobre o amor, a solidão, a morte, carregando na veia o logro da existência. Alguns passaram as suas vidas em instituições psiquiátricas, outros abordaram de modo explícito a sua homossexualidade, outros, ainda, viram os seus livros apreendidos e mesmo queimados ou terminaram os dias na miséria, vivendo da caridade alheia.
Este recital revela o fulgor poético destes homens inquietos, gente que nos deixou “versos mais rijos que ossos”.
Dias antes de morrer, Dinis Albano, aliás Sebastião Alba, um dos poetas convocados para esta sessão, deixa um bilhete dirigido a um amigo: Se um dia encontrarem morto “o teu irmão Dinis”, o espólio será fácil de verificar: dois sapatos, a roupa do corpo e alguns papéis que a polícia não entenderá”. É neste universo convulsivo que florescerá este serão poético, palco natural destes homens que “escolheram a escrita como um meio de desesperar”.
Eles não vos prometem o céu:
Antero de Quental, Gomes Leal, Camilo Pessanha, Ângelo de Lima, Judith Teixeira, Mário de Sá-Carneiro, Florbela Espanca, António Botto, Ruy Cinatti, Mário-Henrique Leiria, Luiz Pacheco, Pedro Oom, António Maria Lisboa, Manuel de Castro, Fernando Assis Pacheco, Vítor Silva Tavares, Luiza Neto Jorge, João César Monteiro, Fernando Madureira, António Gancho, Sebastião Alba, Rui Caeiro, João Damasceno, Joaquim Castro Caldas, Luís Miguel Nava, Paulo Abrunhosa, Daniel Faria e Rui Costa.
Ao grito da noite:
António Carlos Cortez – intróito
Cristiana Sabino, Sandra Salomé, Sofia Saldanha, Susana Sá, António Durães e Isaque Ferreira – leituras
Miguel Amaral (guitarra portuguesa) – música
CruDe (Ana Clément, Dulce Moreira, Mariana Santos) – música
J.P. Simões (a solo) – música
Refira-se, por fim, que a imagem da sessão é da autoria do jovem fotógrafo Lisboeta Italiano, recentemente falecido com apenas 25 anos. O artista pertencia ao Colectivo Prometeu.
Catarina Mesquita, produtora executiva
Luísa Osório, assistente de coordenação técnica